Com a queda do governo de Assad, em 8 de dezembro, começam a surgir relatos sobre valas comuns associadas aos antigos serviços de segurança do regime, principalmente na região de Damasco.
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As recentes descobertas de valas comuns na Síria estão intensificando os receios das famílias de milhares de desaparecidos, cujos entes queridos foram, supostamente, vítimas da repressão brutal do regime deposto de Bashar al-Assad. Com a queda do governo de Assad, em 8 de dezembro, começam a surgir relatos sobre valas comuns associadas aos antigos serviços de segurança do regime, principalmente na região de Damasco. A primeira das grandes valas foi descoberta em al-Qutayfah, a cerca de 40 km ao norte da capital, onde se estima que mais de cem mil corpos possam estar enterrados, de acordo com a organização Syrian Emergency Task Force.
O que se sabe até o momento é que, nesta área desértica, ainda existem vestígios de corpos armazenados sem sepultura, mas poucas respostas sobre a identidade das vítimas. Localizada em uma área cercada por muros altos, o local é de difícil acesso e só se chega por um pórtico sem sinalização. No interior, são visíveis algumas sepulturas, com longas linhas de buracos escavados, nas quais foram encontrados sacos de ossos e números identificatórios, mas sem qualquer data ou nome.
Relatos de sobreviventes, como o de Marwa al-Farahan, que busca por sete parentes desaparecidos, indicam que a descoberta deste local traz à tona as atrocidades cometidas pelo regime de Assad. De acordo com Marwa, os agentes do regime não se importavam com a vida das vítimas e praticavam esses crimes de forma sistemática e profissional. Ela também menciona que, ao tentar obter respostas para o desaparecimento de sua família, percorreu diversos locais, como a cadeia de Sednaya e a prisão da Secção Palestina dos serviços de informações sírios, ambos conhecidos por serem centros de tortura e assassinatos.
Segundo informações do diretor da Syrian Emergency Task Force, Mouaz Mustafa, o ramo da Força Aérea da "secreta" síria recolhia os corpos das vítimas em hospitais militares após as torturas, transportando-os em camiões refrigerados. Esses corpos eram então levados para as valas comuns, algumas das quais já haviam sido localizadas nas últimas semanas. Os relatos de Ala al-Ali, que trabalhou na região em 2014, confirmam as informações, mencionando que apenas os reboques refrigerados eram autorizados a entrar no local, sem que ninguém soubesse o que estavam transportando.
Outras valas comuns têm sido encontradas em diversas partes da Síria, inclusive em Sednaya, que abrigava cerca de três mil presos em condições desumanas. Em um armazém perto de Sednaya, foram encontrados 20 corpos em avançado estado de decomposição. O local era conhecido por suas práticas brutais de tortura e execuções, e muitos dos corpos encontrados em valas comuns podem ser de vítimas de abusos semelhantes.
A descoberta dessas valas e a busca por respostas estão sendo acompanhadas de perto por organizações internacionais, como a ONU. Geir Pedersen, enviado da ONU para a Síria, visitou a prisão de Sednaya e alertou para o risco de um grande aumento da raiva entre os sírios. A falta de ação por parte das novas autoridades para investigar essas questões tem gerado frustração entre as famílias das vítimas. A linha direta criada pelo governo de transição em Damasco ainda está recebendo informações sobre locais e prisões secretas, mas a falta de provas sólidas e documentação torna o trabalho das autoridades um desafio.
Aos poucos, as descobertas continuam a ser feitas, e os "capacetes brancos", uma organização local de resgates, já encontraram centenas de corpos em cidades como Alepo e Homs. No entanto, para os coordenadores dessa missão, a responsabilidade de desenterrar os corpos e identificá-los é imensa e exige uma abordagem cuidadosa. "Ninguém tem o direito de abrir uma vala comum, nem mesmo nossa equipe", afirmou Abdul Rahman al-Mawas, coordenador dos "capacetes brancos", alertando que esse processo precisa ser feito com responsabilidade e sem pressa.
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