Von der Leyen é defensora do acordo, assim como Alemanha, Espanha, Portugal, Suécia e outros países do bloco. Opõe-se ao tratado a França, maior produtor agrícola da Europa, e países como Polônia, Áustria e Holanda, onde o veto é bandeira da direita e da extrema direita
Valter Campanato/Agência Brasil |
Folhapress)- Após alguns dias de mistério, Ursula von der Leyen chegou ao Uruguai. A presença da presidente da Comissão Europeia na cúpula do Mercosul, que ocorre nestas quinta (5) e sexta (6) em Montevidéu, seria sinal inequívoco de que o tratado de livre comércio entre o bloco sul-americano e a União Europeia está prestes a sair do papel.
O documento é gestado há mais de duas décadas e criaria um mercado de 750 milhões de pessoas, responsável por um quinto do comércio global.
No começo da semana, porta-vozes da presidente disseram à reportagem que a viagem não estava na programação; sua agenda tampouco mostrava outros compromissos para os dias da cúpula sul-americana. Procurados novamente pela reportagem para atualizar a informação, os assessores não responderam.
A imprensa alemã já descartava sua participação, nesta quinta, quando a própria política anunciou sua chegada ao país sul-americano. "A linha de chegada do acordo UE-Mercosul está à vista. Vamos trabalhar, vamos cruzá-la. Temos a chance de criar um mercado de 700 milhões de pessoas. A maior parceria de comércio e investimento que o mundo já viu. Ambas as regiões serão beneficiadas."
Von der Leyen é defensora do acordo, assim como Alemanha, Espanha, Portugal, Suécia e outros países do bloco. Opõe-se ao tratado a França, maior produtor agrícola da Europa, e países como Polônia, Áustria e Holanda, onde o veto é bandeira da direita e da extrema direita.
A grave crise política na França era levada em consideração, de acordo com analistas, e talvez por isso sua presença só foi anunciada após a queda do primeiro-ministro, Michel Barnier. Apenas a porção comercial do tratado original seria fechada agora, o que deixaria sua aprovação a cargo de uma maioria simples no Parlamento Europeu.
Para evitar a manobra, os franceses teriam que garantir a adesão de ao menos quatro nações à dissidência, o que já existe, e o correspondente a 35% da população europeia, conta que só fecharia com a adesão de um país do porte da Itália.
Até aqui, a premiê Giorgia Meloni, à frente do terceiro maior exportador da UE para o Mercosul, não estabeleceu uma posição firme sobre participar ou não da oposição ao acordo.
O acordo interessa especialmente à Alemanha, que lidera a lista de exportadores do continente. O país, que convive com greves e anúncios de cortes em grandes indústrias há semanas, almeja a redução tarifária para seus carros e produtos químicos. Pelas regras do tratado, 91% dos artigos comercializados ficarão isentos.
A maior parte do que chega à Europa vinda do Mercosul, 32,4%, são alimentos, justamente a preocupação francesa. O tratado prevê cotas de importação, e a parte com tarifa mais baixa corresponde a menos de 2% do consumo europeu. Ainda assim, a França teme uma inundação de produtos mais baratos, como a carne brasileira. A Irlanda, quinto maior produtor mundial, também vê esse aspecto do acordo com preocupação.
Mesmo antes de a Comissão Europeia se pronunciar sobre o tema, fazendeiros franceses já haviam marcado a volta dos tratores às ruas e estradas do país para a próxima segunda-feira (9). As manifestações devem se espalhar por outros países agora.
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